Testamos a Ducati Multistrada, uma big trail com coração de esportiva

Em por Daniel Medeiros
Atualizado em 14 de novembro às 21:49

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Alguns anos atrás, uma legítima big trail tinha obrigatoriamente rodas raiadas de grande diâmetro, pneus de uso misto e suspensões macias de longo curso. Eis que o mercado percebeu que a grande maioria dos compradores de big trail raramente usavam suas máquinas em estradas não pavimentadas e que buscavam motos com motor forte e conforto suficiente para fazer longas viagens por rodovias asfaltadas. Diante desta constatação, modelos e mais modelos de big trail passaram a ser lançados com características mais “On-Road”. Atualmente existem modelos com suspensões elevadas e rodas esportivas de 17″, que aliam conforto à estabilidade. A Ducati Multistrada 1200 é uma das mais competentes representantes deste segmento específico.

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A marca italiana, famosa por suas esportivas puro sangue, causou um enorme furor quando lançou a primeira Multistrada, algo semelhante ao que ocorreu quando a alemã Porsche lançou o Cayenne. Ambas acertaram na mosca e expandiram suas linhas para atingir um número maior de consumidores.

Visualmente a Multistrada carrega características marcantes do design italiano, com linhas sensuais e agressivas. A frente é um pouco polêmica, confesso que não gostei muito do bico estilo “angry birds”, mas os faróis e as carenagens são muito bonitos. O chassi composto de alumínio e treliça de aço  forma um conjunto harmonioso com o grande motor dois cilindros em “L”. O escapamento é curto e termina em duas ponteiras de alumínio do lado direito. A balança traseira monobraço completa o visual em conjunto com a bela rabeta com lanterna em Leds.

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O acabamento é primoroso, algumas peças parecem feitas a mão. O requinte e esmero estão por toda parte, a começar pela chave, que por si só é um show. Estilo canivete, é daquelas que dá orgulho de colocar sobre a mesa do bar. Além de bela, a chave da Multistrada é tecnológica e possui sensor de presença, ou seja, o piloto não precisa tira-la do bolso para ligar a moto.

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A posição de pilotagem é agradável com braços abertos em posição de ataque, pés um pouco recuados e coluna levemente inclinada para frente. O banco é largo e espaçoso, porém sua espuma é densa como em uma esportiva. A altura do banco em relação ao solo (830 mm) passa a sensação de que estar sobre uma legítima trail, para se ter uma ideia ela é apenas 30 mm mais baixa que uma Honda XRE 300.

O motor acorda disposto e o som que sai das ponteiras soa como música aos ouvidos dos amantes das duas rodas. A vibração é característica, mas só incomoda em baixa rotação. Aliás, se podemos citar um ponto negativo da Multistrada é justamente seu comportamento nesta condição.

Herdado da superbike 1198, o grande V2 a 90° (que a Ducati chama de L2) rende empolgantes 150 cv de potência a 9.250 rpm e 12,7 kgf.m de torque a 7.500 rpm. Apesar de amansado para a utilização da Multistrada, esse bicilíndrico não gosta de andar devagar.

Na cidade o bólido vermelho não se mostra muito à vontade, o motorzão esquenta bastante em baixa velocidade, o câmbio tem engates duros e as trocas de marcha precisam ser constantes para manter o torque na rotação ideal. O guidão largo com protetores de mão não ajuda na hora de passar entre os carros, os piscas de Led são instalados neles, o que nos leva a ter um cuidado maior para não bater nos retrovisores alheios, afinal eles não devem ser nada baratos.

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Se no uso urbano a Multistrada não agrada, na estrada ela justifica o investimento. São quatro modos de pilotagem disponíveis: Enduro, Urban, Touring e Sport. Ao ser selecionado, o modo ajusta eletronicamente o mapa de injeção, as suspensões, o controle de tração e o ABS. No modo “Sport”, a cavalaria total fica disponível e as suspensões ficam mais rígidas melhorando a estabilidade.

Nas arrancadas ela levanta facilmente a roda dianteira nas três primeiras marchas e faz o coração disparar, afinal sobre ela chega-se aos 100 km/h em 3,5 segundos. A sensação é a mesma de pilotar uma esportiva, tanto nas retas quanto nas curvas. A Multistrada possui um entre eixos curto (1530 mm) para uma big trail, o que a torna ágil nas mudanças de trajetória e muito estável. Em altas velocidades a proteção aerodinâmica é excelente e as suspensões firmes não deixam o conjunto balançar.

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Falando em suspensões, para o uso rodoviário elas são excelentes. Na dianteira uma robusta telescópica invertida e na traseira um monobraço monoamortecido, ambas ajustáveis eletronicamente em compressão, retorno e pré-carga da mola. Mesmo com o modo “Enduro” selecionado, as suspensões ainda são muito duras para o uso Off, deixando bem claro que essa não é sua vocação.

Os pneus Pirelli Scorpion Trail 120/70-17 na dianteira e 190/55-17 na traseira são declarados de uso misto pela fabricante (70% asfalto e 30% terra), mas não se engane, eles vão muito bem no asfalto e muito mal na terra. O grip que esses pneus proporcionam na pista pavimentada é sensacional, permitindo raspar com facilidade as pedaleiras.

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Com tanta disposição para acelerar, a Ducati também se preocupou em equipar a Multistrada com o que há de melhor em sistema de freios. Na dianteira dois discos de 320 mm com pinças radiais de dois pistões e na traseira um disco de 245 mm com pinça de dois pistões dão conta do recado e seguram a máquina com sobras. Além disso, o ABS é muito bem acertado e transmite muita segurança, sem vibrações excessivas no manete.

No decorrer do teste até tentamos algumas incursões fora de estrada, mas a Multistrada revelou-se não tão “multi” assim. Com cerca de 220 kg em ordem de marcha, pneus quase esportivos e suspensões firmes, o máximo que dá pra encarar com ela é um estradão de terra bem batida e sem muitos buracos. Nas duas tentativas de rodar com ela nas dunas o sofrimento foi grande, ela se enterrava igual a um peba (é como nós chamamos o tatu por aqui). O nosso querido Ogro (Diogo) perdeu uns 15 kg cavando e puxando para soltar a bruta do atoleiro. Após a seção tortura resolvemos voltar para o asfalto onde a diversão com ela é garantida.

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Na volta para Natal olhei para o painel e percebi que o tanque ainda estava na metade. A autonomia é muito boa, com 20 litros de capacidade e uma média de consumo em torno de 15 km/l dá pra rodar cerca de 300 km sem abastecer. Além do marcador de combustível, o painel totalmente digital ainda oferece inúmeras informações como velocímetro, conta giros, temperatura do motor, consumo instantâneo, consumo médio, autonomia, velocidade média e os modos de pilotagem. É tanta informação que dá até preguiça de ler.

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Conclusão

A Ducati Multistrada 1200 é uma moto espetacular, arisca, estável e emocionante. Ela oferece quase tudo o que uma superbike pode oferecer, só que com muito mais conforto. O carisma da marca é fantástico e não há quem não exclame “caramba uma Ducati” ao chegar perto dela. Enfim, se você busca uma moto com motor potente, capaz de acelerações de tirar o fôlego, com um razoável conforto e não tem pretensões de cruzar o deserto do Saara, prepare R$ 70 mil e vá na Ducati Natal que ela está te esperando.


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