A categoria Supermotard, ou Supermoto, surgiu unindo as características das motos de motovelocidade com as motos de motocross. Na prática, são motos de motocross com rodas menores e pneus de uso misto que rodam em pistas que mesclam asfalto e terra. O visual exótico e a radicalidade dos modelos Supermotard logo instigaram alguns motociclistas que passaram a transformar suas motos trail para rodar com a mesma agilidade cidade.
Logo as fábricas perceberam o surgimento do novo nicho de mercado e lançaram as primeiras “SM” de linha para o uso diário, sucesso total. Uma das mais desejadas representantes desta categoria é a Ducati Hypermotard, que agora que conta com o novo motor Testastretta II 821 refrigerado a líquido.
Personalidade, foi a primeira palavra que veio a minha mente quando cheguei à Ducati Natal e me deparei com a Hypermotard. Seu design é marcante e a esportividade é latente em cada linha. O característico tom vermelho da pintura salta aos olhos e contrasta com o preto do motor. Seu perfil é esguio, sugerindo extrema leveza e agilidade. O banco é alto e o guidão bem largo com belos protetores de mão. Farol, piscas e lanterna traseira são muito bonitos e harmoniosos.
As suspensões são robustas, especialmente na traseira que conta com uma linda balança monobraço e um amortecedor de longo curso praticamente todo exposto. O tradicional chassi em treliça de aço, também pintado em vermelho, completa o pacote radical. Acabamento padrão italiano e cuidado nos mínimos detalhes (como o nome Ducati gravado nas pedaleiras) também estão presentes na Hypermotard. Algo que me chamou a atenção foram as manoplas, para mim as melhores que já experimentei, tanto no desenho do grip como no tato da borracha.
Aos comandos a sensação é de estar sobre uma moto de motocross anabolizada, o tanque é estreito, o banco é alto e o guidão bem largo. As pedaleiras estão posicionadas como em uma naked, levemente recuadas e não muito elevadas. A posição de pilotagem te deixa sempre em posição de ataque, ideal para as curvas e mudanças de trajetória.
Sem mais delongas parti para a parte prática do teste pelas ruas da nossa bela cidade e, sinceramente, fazia tempo que eu não me divertia tanto com uma moto como eu me diverti com a Hypermotard.
Não é a moto ideal para o uso urbano, apesar das dimensões reduzidas. Selecionei o modo “Urban” (ela dispõe de três modos de pilotagem: Sport, Urban e Touring) para que as reações ficassem mais pacatas, mesmo assim o comportamento do L2 incomodou um pouco em baixa e pediu muita marcha. O guidão largo também atrapalha no corredor e o calor nas pernas não passa despercebido.
Achei o câmbio de seis marchas um tanto seco e barulhento, mas os engates são precisos. Como o comportamento do motor é bem esportivo e precisa de mais rotação para “encher”, as trocas de marcha tornam-se frequentes no trânsito, o que acaba cansando um pouco.
Após sofrer um pouco fui buscar ar fresco na estrada. Troquei o mapa para “Sport” e foi aí que a diversão começou de verdade. O motor fica mais arisco e sobe de giro rapidinho, empurrando com vontade depois das 4.000 rpm. São 110 cv de potência e 9,1 kgf.m de torque em uma moto que pesa apenas 175 kg.
Como o controle de tração e o ABS ficam menos intrusivos nesse modo, é preciso mais cuidado com a mão direita. Basta se empolgar um pouco a mais para a roda dianteira sair do chão e o guidão subir em direção ao peito. As acelerações são contundentes e ela passa fácil dos 200 km/h.
Aproveitei que estava com pista livre para testar também o modo “Touring”. Achei bem parecido com o modo “Urban”, a moto fica mais previsível e sob controle. Na Hypermotard a pilotagem é de peito aberto, sem qualquer proteção aerodinâmica, o que torna cansativo manter velocidades elevadas por muito tempo.
Na parte ciclística um show, as suspensões são ótimas e copiam tudo apesar do ajuste firme. O chassi é bem rígido e nas curvas da Via Costeira não deu pra sentir uma “torçãozinha” sequer. Ela faz raiva a muita esportiva e contorna as parábolas com extrema competência e estabilidade. Os pneus Pirelli Diablo Rosso parecem chicletes, grudam que é uma beleza. Na hora de parar o conjunto Brembo com ABS dá conta do recado com folgas. O discreto painel é bem completo e totalmente digital.
Conclusão
A Hypermotard não é uma moto para ser usada no dia a dia, nem para passear com garupa. O motor é bruto e esquenta um bocado no trânsito parado, apesar da refrigeração a líquido. Para viajar ela também não é ideal, pois o conforto não é dos melhores. Em resumo ela é uma moto extremamente divertida e cai como uma luva pra quem procura emoção e esportividade em doses cavalares.
Uma boa notícia é que a Ducati começou a montar a Hypermotard em Manaus, o que reduziu o seu preço em R$ 7 mil. Mesmo assim ainda é uma moto para poucos sortudos.
Ficha Técnica
Motor: 821 cm³, dois cilindros em linha, quatro válvulas por cilindro, com refrigeração a líquido e injeção eletrônica. Câmbio: Manual de seis marchas. Potência máxima: 110 cv a 9.250 rpm. Torque máximo: 9,1 kgfm a 7.750 rpm Suspensão: Dianteira invertida com garfo telescópico de 43 mm com 170 mm de curso. Traseira com monoamortecedor progressivo ajustável com 175 mm de curso. Pneus: 120/70 R17 na frente e 180/55 R17 atrás. Freios: Dois discos flutuantes de 320 mm e pinças Brembo com quatro pistões na frente e disco simples de 245 mm e pinça com pistão duplo na traseira. Dimensões: 2,10 metros de comprimento total, 0,86 m de largura, 1,15 m de altura, 1,50 m de distância entre-eixos e 0,87 m de altura do assento. Peso: 175 kg. Tanque do combustível: 16 litros.
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