No Brasil, a ideologia partidária já caducou há muito tempo. A escolha de partidos segue os interesses pessoais dos políticos. Quando foi criada a Lei de Fidelidade Partidária, esperava-se que o troca-troca de legenda por conveniência tivesse um fim. Mas, sempre existe uma brecha. Neste caso, a criação de novos partidos.
Recentemente, já vimos o surgimento de novas siglas que visavam “libertar” parlamentares da amarra da fidelidade partidária. Foi assim com o PSD, que visava levar políticos da oposição para a base do governo. O Solidariedade fez o caminho oposto. Foi criado para levar governistas à oposição. Também surgiu o PROS, criado por dissidente do PSB que não queriam romper com o governo Dilma.
O resultado da eleição deste ano nem esfriou e já vem aí a articulação para criar uma nova agremiação: o Partido Liberal (PL), que já existiu e se transformou em Partido da República, após se fundir com o PRONA. A criação do PL é conduzida pelo ex-prefeito de São Paulo Gilberto Kassab, que já articulou a fundação do PSD há dois anos.
Na sua concepção, o Partido Liberal abrigaria defensores do liberalismo econômico, da privatização das empresas estatais, do Estado mínimo, do desaparelhamento da máquina pública e da valorização da liberdade individual. No entanto, nenhum desses ideais está presente na concepção dos seus fundadores.
O PL surgirá dentro da base da presidente Dilma Rousseff (PT), cujo governo vai de encontro a tudo que o partido em tese defenderia. Nada mais é do que uma estratégia para abrir nova janela de passagem aos parlamentares da oposição que desejarem migrar para a base governista. O intuito é totalmente fisiológico.
A ideia é fazer do PL uma simples brecha para atender os interesses do Planalto. Logo após sua fundação, o partido irá absorver ou será absorvido pelo PSD, outra sigla criada sem nenhum cunho ideológico. O PL já nascerá morto ideologicamente.
A política partidária do Brasil se transformou numa plataforma fisiologista sem fim. A reforma política, que já passou do tempo de acontecer no Brasil, precisa pôr fim a essa festa da hipocrisia. Para termos um futuro político-democrático organizado, é preciso haver uma identidade ideológica. Caminho oposto ao que o Brasil segue neste momento.