Sob o causticante sol de Mossoró, militantes dispersos comentavam nos arredores do Colégio Evangélico Leôncio José de Santana a expectativa de derrota de Henrique Eduardo Alves ao Governo do Estado, quando a governadora Rosalba Ciarlini chegou.
– Governadora, já votei 55. – Jactou-se animado um eleitor se referindo ao número de Robinson Faria. – Mossoró é a terra da resistência. Resistimos ao cangaço de Lampião e agora vamos resistir aos cangaceiros da política. – Rosalba riu, e seguiu para urna, onde confirmou o plano de vingança que mais tarde restaria vitorioso, quando Robinson Faria conquistou mais de 71% dos votos válidos em Mossoró, uma maioria de mais de 48 mil sufrágios sobre Henrique Eduardo Alves.
O plano engendrado por Carlos Augusto Rosado e Rosalba Ciarlini, casal regido pelo signo de escorpião, foi gestado no expurgo da governadora por José Agripino, mentor da manobra que impediu, pela primeira vez, uma mandatária de disputar sua reeleição. Depois de defender seu direito à reeleição na convenção do Democratas, em junho, a governadora recolheu-se à residência oficial, onde sentou e chorou.
– Como Zé Agripino faz um negócio desses comigo? – Indagou a amigos entre lágrimas.
O episódio foi o estopim de rusgas que vinham sendo colhidas há muito tempo. Rosalba nunca gostou muito do tratamento que José Agripino lhe dispensou. O dono do Democratas, por exemplo, costumava comentar que foi ele quem fez Rosalba, abro aspas, “uma mera prefeita do interior”, senadora da República.
Os desagrados não pararam por aí. No auge da rejeição de Rosalba, Agripino comentava entre os comensais que a governadora não estava nem em condições de sair às ruas para pedir votos. Carlos Augusto se revoltou.
– Ela não vai ser candidata. Mas vou deseleger muita gente. – Prometeu o marido de Rosalba.
Silencioso, o marido da governadora, Carlos Augusto Rosado, iniciou a manobra que tinha por bandeira derrotar Henrique Eduardo Alves, beneficiário direto da ausência de Rosalba do pleito deste ano.
O plano passava por tirar tantos votos quantos fossem possíveis. E, para isso, Mossoró seria essencial. Tudo contribuiu para a estratégia dar certo. A governadora mostrou-se forte ao conseguir primeiro derrotar Wilma de Faria angariando votos para Fátima Bezerra na cidade.
A isso se somou a falta de afinidade das lideranças de Henrique na cidade, já que os grupos de Sandra Rosado, Fafá Rosado e Cláudia Regina não se entendiam. Para completar, a máquina mossoroense está nas mãos do prefeito Silveira Jr., que fez desmedidos esforços para eleger Robinson. Apenas uma intervenção de Santa Luzia poderia evitar a derrota iminente de Henrique na cidade.
Divergência
Na última semana do pleito, o caso tinha uma divergência que precisava ser superada. Carlos Augusto mantinha a bandeira da derrota de Henrique. Rosalba pensava da mesma maneira, mas não necessariamente defendia o voto em Robinson. Afinado o pensamento, a governadora foi para as ruas em favor de seu vice-governador.
Os mais de três anos de críticas veladas de Robinson ao governo foram esquecidos em nome da seguinte lógica: Robinson, ao menos, tinha a dignidade de fazer as críticas abertamente.
– Já Rosalba foi apunhalada pelas costas por aliados. – Contou-me uma fonte.
O resultado desse empenho foi a obtenção do dobro dos votos que Robinson conseguiu no primeiro turno, quando somou pouco mais que 23 mil sufrágios de diferença sobre Henrique. E ainda há o prefeito Silveira Júnior, que também cobra as glórias da vitória e está orientando sua militância a não bater de frente com o grupo rosalbista. A ordem é não fazer inimizades. Pelo menos até 2016.