Surge Joe Cocker (com um pequena ajuda dos amigos)
O Festival de Woodstock, em 1969, foi um marco na história da música. Durante três dias, entre 300.000 e 500.000 pessoas aglomeraram-se em uma fazenda no estado de Nova Iorque, enquanto trinta e duas atrações se revezavam no palco. Algumas apresentações foram eternizadas no filme de Michael Waldleigh (com um aprendiz Martin Scorcese como um dos assistentes de direção): The Who, em “We’re not gonna take it”, um iniciante Santana em “Soul Sacrifice”, Richie Havens, cantando “Freedom” captando a atenção de uma plateia mundial e as duas apresentações pelas quais o festival mais frequentemente é lembrado: Jimi Hendrix tocando “Star Spangled Banner/Purple Haze” e a mesmerizante interpretação de Joe Cocker em “With a little help from my friends”.
Desde o início, Lennon e McCartney foram as figuras dominantes nos Beatles. Eles compunham as canções originais e decidiam entre os dois quem seria a voz principal em cada música. E concediam que George Harrison e Ringo Starr vez por outra liderassem o vocal. Faziam um agrado aos dois companheiros e aos fãs. Com o tempo, George decidiu arriscar-se na arte da composição e a conquistar um espaço maior, embora menor do que julgava merecer, nos discos do grupo.
Em Ringo Starr, a veia de compositor era quase inexistente. Assim, Ringo tinha mesmo que se contentar com o que Lennon e McCartney lhe ofertavam. Obviamente, não eram as melhores canções. Uma musiquinha gaiatinha aqui (Yellow Submarine), uma mais ou menos acolá (Act Naturally) e a vida e os discos iam passando.
Para o disco Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band, a cota de Ringo foi “With a little help from my friends”. Não é uma má música. Longe disso. Mas não era um dos destaques. Desde o lançamento, “Sgt.Pepper’s” foi incensado como um disco excepcional, mas as que mereciam mais atenção eram “A Day in the Life”, “Lucy in the Sky With Diamonds”, “She’s Leaving Home”, “Lovely Rita” e a própria faixa-título. E foi assim até Joe Cocker e o Festival de Woodstock.
Em oito minutos Joe Cocker trouxe “With a little help from my friends” para o palco principal. Descabelado, com uma roupa “psicodélica”, como era comum naqueles anos, movendo o corpo como um mamulengo que tocava ora uma guitarra, ora um teclado imaginários, e acompanhado por uma ótima banda de apoio (The Grease Band), hipnotizou o público com sua versão “soul”. Paul McCartney declarou ter ficado estupefato com a transformação da música. “Ele fez dela um hino da “soul music” e eu serei eternamente grato a ele por isso.”
Joe Cocker e a lendária interpretação de “With a little help from my friends” no Festival de Woodstock (1969)
Joe Cocker cantou 10 músicas em Woodstock – Uma das primeiras foi “Something’s coming on”. Título profético.
A gravação era um sucesso na Inglaterra. Era a música título do LP que Joe Cocker tinha lançado poucos meses antes, com Jimmy Page na guitarra, mas era desconhecido no resto do mundo. A sucesso em Woodstock deu fama mundial a Cocker, mas sua carreira continuou fundamentada principalmente em versões cover.
Embora nenhuma de suas apresentações subsequentes tenha conquistado o imaginário do público como a de Woodstock, seguiu fazendo sucesso, com versões bem sucedidas de “Cry me a river”, “Delta Lady” “You’re so Beautiful”, “The Letter”e “Unchain my heart”, por exemplo. Com a última chegou a concorrer ao Grammy. E continuou revisitando o repertório dos Beatles. “She came in through the bedroom window”, “Something” e “Come together” também foram alvo de sua atenção.
Por vezes, Joe Cocker ensaiava alguns passos pela estrada principal da música pop. Em uma dessas incursões gravou, na companhia de Jennifer Warnes, “Up where we belong”, música tema do filme “A Força do Destino”. A música foi número um da parada de sucessos americana por três semanas. De quebra, ganhou o Oscar de “Melhor Canção”, Globo de Ouro, Bafta e Grammy, em 1983.
John Robert Cocker morreu de câncer de pulmão no dia 22 de dezembro de 2014. Joe Cocker vive.
Let’s get stoned – Joe Cocker em Woodstock (1969)