
Já faz muito tempo que Fernando Henrique Cardoso, um dos poucos estadistas do Brasil, disse com sentimento de cansaço sociológico: “chega dessa república do nhem-nhem-nhem”. Ninguém jamais havia definido melhor a vida política nacional.
Não há nada mais medíocre no país do que a prática dos partidos e seus líderes nesses tempos de democracia pós-adolescente que cresceu entre mentiras históricas e retóricas eleitorais. Costumo repetir que o que é bom para os partidos é ruim para o Brasil.
A partir do governo João Batista Figueiredo, o último general da República militar implantada em 1964, o caldeirão da política ferveu numa sopa de letrinhas falsas e de discursos idem. Direita e esquerda engalfinhadas pela propriedade do nosso destino.
O trem da História não anda sobre bons trilhos por aqui, e confunde rotas supostamente distintas mas que levam a uma mesma estação sem passado e futuro. Todo mundo é maquinista de um presente estático, que nunca muda em relação aos políticos.
O velho Zé Sarney, observador astuto dos últimos 60 anos de fantasia, dizia que na República das bananas o governo era um instrumento ao bel prazer das mãos de todas as correntes, como um violino que se toma com a esquerda e se toca com a direita.
Em que país um levante militar de direita combate o comunismo reforçando o papel do Estado num ambiente capitalista? E em que nação um partido de esquerda chega ao poder com seu líder no papel de estafeta de empreiteiros com fome de lucro?
É esse o Brasil da direita estatista e da esquerda privatista, em que as figuras de Garrastazu Médici e Luiz Inácio Lula da Silva se confundem em teoria e prática, com a única diferença de que o primeiro tinha critérios morais e éticos não negociáveis.
Somos a nação do discurso eleitoral do simulacro, das conveniências pessoais disfarçadas em oratórias de pseudo-objetivo cívico. Quanto mais se fala nos palanques em discutir o país, mais se pratica nos bastidores as benesses do poder por vir.
Essa semana, aqui no JH, o ministro Garibaldi Filho (PMDB) reproduziu um lugar comum que aparece a cada eleição. Os políticos costumam tentar adivinhar o sentimento do povo e se danam a afirmar aquilo que presumem ser a vontade popular.
As lutas políticas no RN comprovam que a população é quem menos assume o discurso dos acordos entre adversários. A sabedoria popular se impõe nas urnas colocando no seu devido lugar governistas e oposicionistas, cada qual com o seu cada qual.
Não fosse a tal “paz pública” de 1978, que juntou o aluizismo com o dinartismo então representado na figura de Tarcísio Maia, o patriarca dos Alves não teria amargado a derrota acachapante de 1982, frente ao jovem prefeito de Natal, José Agripino.
De lá para cá, outras derrotas ocorreram em todas as correntes, sempre pelo mesmo motivo, ou mesmo pecado das alianças espúrias. Que o digam Wilma, Henrique, o PT e o próprio Garibaldi. Tem sido uma tradição o eleitorado dizer não aos acordos.
Quando uma liderança, de direita, centro ou esquerda, diz que campanha eleitoral só é boa com propostas políticas e administrativas, o povo reage exatamente ao contrário. O histórico diz isso. De nada adianta ser liberal quando a população é radical.
Por mais que os candidatos preguem o “fair play” das urnas, as arquibancadas dos eleitores querem ver a arena pegar fogo. A própria História da raça humana é uma sequência de anos produtivos pós-guerra. A paz não produz sequer intelectuais.
Campanha eleitoral propositiva é coisa de extintos comunistas do marxismo latino-católico. Povo quer adversários separados no ringue do radicalismo. Como dizia a paródia de um velho reclame, “liberal, liberal, é melhor e não faz mal”.
Povo adora ver porrada no UFC do TRE.